sábado, 1 de novembro de 2008

Como envio meu original?


Se você der uma olhada no que eu disse sobre editoras comerciais, verá que abordá-las é como ir a um banco pedir um empréstimo. Todo banco precisa emprestar dinheiro, assim como toda editora comercial precisa encontrar bons autores inéditos. Acontece que, como há muita gente sem garantias pedindo empréstimo, também são muitos os autores apresentando obras impossíveis. Por isso, contam a calma, a boa educação e as expectativas realistas de sua parte.

Linha editorial adequada

Como já disse, a enorme maioria dos originais que chegam a uma editora não têm nada a ver com a linha editorial da casa.
O que é linha editorial?
Linha editorial são os assuntos – ou gêneros literários – que a editora costuma publicar, e também a abordagem dentro dos assuntos. Se você for a uma grande livraria, verá que habitualmente os livros são divididos em algumas categorias, como história, auto-ajuda, romances, marketing etc. Uma livraria como a Cultura de São Paulo tem mais de cem divisões principais, fora as subdivisões. Essas podem ser consideradas linhas de publicações praticadas pelo mercado.
Dentro de uma mesma área, como por exemplo sociologia, você encontra várias tendências: historiográficas, antropológicas, de esquerda, de direita, pró-Estados Unidos, pró-França e por aí vai. Se você quer ter alguma chance de ser considerado por uma editora, precisa encontrar uma que publique o gênero dentro do qual a sua obra se encaixa, inclusive com o mesmo enfoque que você deu.
Nessa seleção, você precisa ter muita frieza. As editoras não têm interesse em adequar as suas linhas a você, é você quem precisa se adequar a elas. Se a sua obra é “mais ou menos” parecida com as que uma casa publica, você vai ser recusado. Não adianta você levar sua autobiografia (sendo que você é um vendedor de carros aposentado) dizendo que ela tem um caráter histórico. As editoras de história vão todas recusar a sua obra, e apenas editoras que eventualmente publiquem autobiografias de pessoas não famosas poderão se interessar.
A maneira de saber o que as editoras publicam é indo até uma boa livraria e vendo o que foi lançado na sua área. Não adianta tampouco localizar editoras que nos anos setenta publicavam poesia, mas que agora se dedicam apenas à informática. Muitas vezes, as linhas editoriais são fruto das preferências de um editor específico, que pode se aposentar ou trocar de emprego. Verifique o que tem acontecido no mercado nos últimos dois anos.
Nunca -- nunca! -- mande uma carta dizendo “não conheço a sua editora, mas estou enviando minha obra”. A pessoa que seleciona os originais vai pensar que, se você não se deu ao trabalho de fazer uma simples pesquisa em uma livraria, com certeza não está apresentando uma obra adequada à linha editorial da casa.
Para que insultar uma empresa que você quer interessada em você?

Originais impressos, limpos e organizados

Apresentação conta. Quando for enviar seu material a uma editora, imprima ou fotocopie o seu original sem sujeiras ou áreas cinzentas ou letras apagadas. Evite também correções a mão. Por outro lado, não gaste seu dinheiro com encadernações luxuosas ou fotos de autor produzidas em estúdio. O necessário é enviar um material fácil de ler, não um livro acabado.
É completamente irrelevante fazer uma diagramação caprichada de sua obra, como se as páginas fossem ser impressas a partir dali. Os programas usados para a paginação profissional de livros são o PageMaker ou o QuarXpress, e tudo o que você faz no Word exceto o texto é perdido na transcrição. Fontes exóticas, cores, tabulações, recuos e outros recursos para embelezar as páginas devem ser evitados porque chegam a atrapalhar. Use apenas o que for necessário para diferenciar títulos de subtítulos e de aberturas de capítulo.
Não apresente idéias de capa ou de ilustrações internas. Enviar uma capa desenhada por um amigo dá a idéia de que você é um amador que não entende absolutamente nada de publicações. A capa é uma decisão editorial e de marketing importante, que envolve a imagem e o estilo da editora. A menos que você esteja apresentando o trabalho de um capista qualificado e experiente, sua sugestão irá apenas aborrecer o editor.
Faça uma revisão de seu texto. Apartes do tipo “essa obra não foi revisada, sei que a editora conta com ótimos profissionais“ não impressionam nada bem. Se você é tão incompetente com o Word que nem passar a revisão ortográfica consegue, não transmite a segurança de quem sabe sobre o que está escrevendo. Peça a um amigo ou a um revisor profissional para eliminar pelo menos os erros ortográficos mais gritantes, se isso está fora do seu alcance.
Numere as páginas de sua obra. Ela não precisa estar encadernada, mas se não estiver numerada, um acidente -- como deixá-la cair no chão -- pode tornar a leitura impossível.
Escreva o nome da obra, seu nome verdadeiro e de eventuais co-autores, seu endereço, e-mail e telefones de contato na primeira página. Muitas obras se perdem porque os autores colocam seus endereços apenas no envelope, e este se separa da obra ao ser enviado para leitura. Se quiser ser mesmo cauteloso, imprima seu nome e telefone no alto de todas as páginas, como um cabeço. O eventual uso de pseudônimos pode ser decidido depois, caso um contrato venha a ser negociado.
Acrescente apenas as ilustrações e gráficos que forem necessários à compreensão do texto, uma vez que é a editora que decide como diagramar seus livros. Se você precisar incluir imagens que não sejam suas, terá de citar a fonte completa ou, em caso de fotos, pedir permissão para a reprodução. Evite portanto se apropriar de material publicado em outros livros, visto que dá muito trabalho ficar obtendo permissão das editoras originais.



Laura Bacellar

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