sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Como filtrar as descrições através dos personagens




Alguns fatores nos levam a filtrar, de formas diferentes, o que vemos e sentimos quando estamos em uma determinada situação. Esta afirmação também é válida para nossos personagens. Os fatores mais relevantes são:
Experiências anteriores. Se uma pessoa é pobre e nunca teve a oportunidade de ir a um restaurante classe A, por exemplo, ela irá reparar em detalhes que uma pessoa rica e acostumada a este tipo de lugar não repararia. O assoalho de madeira envernizada, a arrumação das mesas com toalhas de linho e taças de cristal, a forma como os garçons abordam os clientes e por aí vai.

Em uma situação como esta, a pessoa rica iria reclamar da sua mesa que estava demorando, apesar de ter sido feita uma reserva! Nesta mesma linha, imagine alguém que nunca tenha pescado na vida e decidiu participar de uma pescaria com os amigos pescadores veteranos. Quando esta pessoa pegar um peixe, será uma experiência completamente nova! A tentativa de segurar o peixe que escorrega pelas mãos como sabão, o incômodo de ser espetado por uma barbatana, a falta de habilidade para retirar o anzol, etc. Tudo isso para os veteranos já não é mais um problema. A forma de lidar com as situações e os sentidos é completamente diferente. Pense nisso.

Quando for colocar seus personagens em situações que são naturais para eles, eles devem reagir de acordo. Da mesma forma, a reação deve ser oposta em ambientes não naturais. Conheça seus personagens e respeite o passado e as experiências deles.
Reagir através dos sentidos. Nossas reações são motivadas pelos nossos sentidos. Nem sempre devemos descrever o que o personagem está vendo. Em algumas situações, outros sentidos podem estar mais em evidência do que outros. Imagine um personagem entrando em uma sala escura. Nesta situação, o tato e a audição serão os sentidos pelos quais devemos descrever a cena. Se entramos em uma tubulação de esgoto, o cheiro é a primeira coisa que nos impacta. Se estamos molhados depois de pegar uma chuva e é inverno, estaremos sentindo frio. Determine qual sentido está mais em evidência e use-o para determinar como o personagem reage.

E se fosse você? Coloque-se no lugar do personagem e pense no que você estaria sentindo em determinada situação. O que você vê? Está frio? Quente? Algum som que chame a sua atenção? Algum cheiro? Só não esqueça que seu personagem tem um passado diferente do seu e, provavelmente, irá reagir de modo diferente. A não ser que você esteja escrevendo sobre si mesmo.

Mostre apenas o que é importante. Quando estiver descrevendo algum objeto, lugar ou situação, lembre-se de só mencionar o que for relevante para a ação. Não caia na tentação de descrever todos os objetos de uma sala, minuciosamente, se isso não fizer diferença para a trama. Descrições detalhadas fazem com que você fique longe da ação e isso deixará o leitor entediado. Seja coerente. Se alguém estiver fugindo da polícia em uma perseguição nas ruas de Paris, não dá tempo de parar para admirar a beleza e os detalhes arquitetônicos do Arco do Triunfo!

Pegue qualquer obra de um grande autor e veja como ele trata o assunto. Você irá aprender muito fazendo este exercício.

Julio Rocha

2 comentários:

Felipao disse...

Suas dicas tem me ajudado muito, sou um escritor novato, e suas dicas tem me ajudado muito. Eu leio suas dicas e olho nos meus livros - principalmente, os de maior renome -, e ponho elas em ação! Realmente, seu blog é maravilhoso!

Anônimo disse...

Estou tentando escrever um livro, achei em seu blog dicas pertinentes.
Obrigado.

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